terça-feira, 15 de março de 2011

cinema brasileiro

15/mar/2011
Mensagem que enviei pela lista de debates do cinema brasileiro, tendo em vista o Encontro de Realizadores ( de cinema) no Rio, dia 19 próximo:
Caro Sevá, caros amigos
Infelizmente não poderei, como gostaria, participar desse encontro no RIo, como sempre participei desde início de carreira, incluindo o que propôs a criação da Ancine. Aliás, fui relator dessa proposta.
Acho que o que temos assistido nos últimos anos é um outro polo de nossos exageros.
E peço licença para, despretenciosamente, fazer pequenas observações fruto de minha experiência como homem de govêrno ( onde eu era, - como deveria ser, primeiro governo, depois cineasta e homem de cultura)
Primeiro exagêro é a idéia de que, como setor da cultura inserido politicamente nas administrações, poderiamos conduzir as coisas ao nosso gosto. Afinal nós é que vivemos o cinema enquanto realidade de produção e mercado.
Segundo exagêro ( e atual) a idéia de que os governos, usando algumas de nossas boas cabêças, podem governar sem a participação do setôr ( ou com mecanismos formais que não alteram, de fato, a política pretendida)
O primeiro exagêro se esgota rápido, nenhum governo "gosta" ( no sentido mais amplo, "não se dá bem", etc.) de ter em seu espaço setores que buscam soluções sem uma concreta mediação governamental. A política para cada setor da vida administrativa deve se casar, e bem, com a política governamental, ser assumida por ela. Posso dizer que isso aconteceu nos primeiros anos da Embrafilme (com certa ambiguidade mas boa para o cinema brasileiro). E também nos primeiros anos da ANCINE.
O segundo exagêro é o distanciamento do setor, com o govêrno decidindo por achar que as idéias de seus quadros são mais elevadas, mais puras e de visão estratégica mais moderna, prescindindo, pois, do próprio setôr. Eis o fermento da discórdia e da inoperância, também do recolhimento crítico e do isolamento. Nesse caso, quanto mais brilhantes e organizados forem esses quadros, mais a questão se agrava. Pois não se governa para o próprio governo. Governa-se para a sociedade, para o presente e o futuro tendo o passado como base e referência. E o desenvolvimento cultural de nossa sociedade como meta.
Creio, baseado nessas observações, que é hora de buscar esse consenso entre governo e cinema brasileiro: um projeto que, refletindo todas as nossas experiências passadas e presentes, busque o novo. E esse "novo" deverá estar marcado pela transparência e pela convicção de que podemos ter um cinema brasileiro moderno, diversificado, pluralista, tanto popular quanto cultural, revelador de grandes talentos, como sempre foi.
Uma só observação final: nenhuma entidade oficial da cultura brasileira deve ter o poder de subjugar a cultura e seus agentes, seus criadores. Por isso seu poder de decisão deve ser limitado ao essencial. É melhor uma relação mais livre da cultura com a sociedade, empresários, TVs, estados, prefeituras, associações, museus, ongs, institutos, do que uma relação subalterna diante de órgãos oficiais. Vivemos numa democracia há mais de 25 anos. E toda democracia deve se aprimorar a cada instante. E nesse processo, uma das questões fundamentais é a questão do poder (agravada entre nós pela hipertrofia do executivo, o que tem impedido que partidos políticos e parlamentares façam a democracia avançar mais rapidamente)
Um abraço
João Batista de Andrade

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