segunda-feira, 21 de março de 2011

cinema de rua

Como resultado de meu trabalho na TV Cultura, entre 1972-74, como parte do grupo que criou o telejornalismo diário da TV, o "Hora da Notícia" (com Fernando Jordão, Vladimir Herzog, eu, Fernando Moraes, e muita gente boa)surgiu o movimento "Cinema de Rua". O mote era: pequenos filmes temáticos, focados em problemas sociais como habitação, miséria, transporte urbano, acidentes trabalho, política, etc. O motivo foi a inusitada busca de reportagens feitas por mim: organiz~ções da sociedade, ainda clandestinas (era ditadura...) buscavam cópias para discutir em grupos (sociedades amigos de bairros, clubes de mães, igrejas, sindicatos, grêmios, um monte de entidades que pegavam os filmes e não revelavam nunca "onde" exibiriam). O movimento cineclubista, em 1973 assumiu a distribuição desses filmezinhos e um grupo de jovens cineastas resolveu fazer outros, agora fora da TV. A distribuição era um sucesso impressionante,muita procura. O movimento ganhou o nome de Cinema de Rua, por causa de uma entrevista minha para a Revista da Cinemateca.
Pois bem, agora, para surpresa minha descobri um site chamado CINEMA DE RUA. Eu me comuniquei comn eles: é um grupo de jovens cineastas, inciando suas carreiras. Marquei com eles ( a pedido deles) e eles me disseram que não conheciam o movimento original "Cinema de Rua"... Foi uma ótima conversa, gravada por eles. E eles levaram cópias de filmes do movimento e me deixaram um DVD com filmes deles. Eis o que respondi para eles, por e-mail:

Kiko
Vi ontem o DVD com seus filmes.
São ensaios bonitos, uma busca poética da cidade.
Não gosto de fazer críticas, acho que vocês buscam seus próprios caminhos.
Eu comecei muito diferente, marcado pelas minhas opções políticas desde antes de 64 ( e depois, claro). E isso se reproduziu em toda minha obra, inclusive no movimento Cinema de Rua (1972-1976): um cinema sujo, tipo rascunho, brechtiniano, crítico. A realidade social sempre me incomodou, isso está presente em minha obra.
Eu ainda me sinto incomodado com a vida.
Desejo sucesso a vocês no caminho a que se propuseram.
Pode ser que esse olhar, mais de encantamento do que de crítica, seja o olhar do jovem de hoje, não sei.
Pelo menos é o de vocês.
Quanto ao nome "Cinema de Rua", acho que vocês é que devem decidir se desejam essa referência do passado: não há como fugir, pois o movimento "Cinema de Rua" faz parte da história do cinema brasileiro.
Um abraço
João Batista de Andrade

3 comentários:

Kico Santos disse...

João!

Nosso encontro foi muito inspirador, foi incrível ouvir suas histórias do movimento Cinema de Rua e nos identificar muito com elas.

Às vezes a gente coloca tanto empecilho para fazer um filme e não percebe como hoje é tão mais fácil produzir. A nossa história é um pouco disso.

Começamos a produzir de um jeito que fosse possível, observando o nosso cotidiano. De repente ali, no meio da tarde, no ônibus, na chuva poderia haver um pequeno filme.

Os dias de hj andam assim, completamente lotados. Mas são dias bem modernosos.. hj a gente filma, monta e mostra nossos filmes pra todo mundo. É quase como brincar de fazer cinema mas com emoções de verdade.

Nosso Cinema de Rua é meramente um blog, um canal para exibir nossas ideias plenamente autorais e independentes. Penso que nossa motivação difere do movimento original que vc liderou, marcado sobretudo pela crítica social. Somos alimentados pelo público que nos assiste e deixa comentários emocionados.

Buscamos as narrativas possíveis do cotidiano, ora pautados pela crítica, ora pela poesia, pelas experimentações, enfim.. Há uma preocupação em manter nosso canal livre para o que for.

Achei incrível o nosso encontro, por isso filmamos tudo. Apesar de separados por 40 anos de história, compartilhamos um desejo inquieto de registrar a vida, as pessoas e a metrópole.


Kico Santos
http:// www.cinemaderua.com.br

Fernando Nogueira disse...

João Batista, ótima lembrança essa, a do "Cinema de Rua". Diga uma coisa: vc tem esse material disponível? Os "filmezinhos", como vc disse, do "Hora da Notícia"? Tem muita curiosidade em conhecê-los. Outra questão, próxima, o filme "Liberdade de Imprensa" já está em DVD? Estou matutando umas ideias e, gostaria de revê-lo. Afinal, assisti esse seu filme em uma programação do CCBB dedicada à sua cinematografia. Enfim... Nos vemos pelo Facebook!

Luciana disse...

João Batista.
Somos uma ONG que começou a fazer um trabalho de educação ambiental no parque raposo tavares e começamos a resgatar a história do local. Nossa emoção foi enorme quando tivemos acesso ao documentário Restos, que levou nosas equipe as lágrimas. Gostariamos de entrar em contato com o Sr, pois queremos passar esse filme nas comunidades do entorno do parque. Estamos resgatando a história com entrevistas de antigos moradores! quem sabe não encontramos alguem que trabalhou lá nessa época. Abraços Luciana Lopes www.ipesa.org.br; lucianalopes@ipesa.org.br