domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais

Dia dos pais. Sem temor, uma dose controlada de emoção, me vi às voltas com as possibilidades da vida e da morte. Eu me perguntava que coisa, que fato, que pessoas eu teria pena de deixar. Pensei nos filhos, me emocionei revendo-os ainda pequenos, vivendo comigo as aventuras costumeiras, praias desertas, matas, viagens... Pensei nos netos queridos, criaturinhas de puro amor que são o melhor da humanidade. Sim, eu sentiria alguma dor em deixá-los. Mas uma lembrança forte sacudiu minha cidadela familiar: Wilsinho, Wilsinho Galiléia. O personagem de meu filme que tem seu nome. A saga trágica de um menino de periferia em busca de alguma alegria e de prazer, tentação que o levou ao crime e também à morte aos 18 anos, fuzilado pela polícia. Meu filme, de 1978, longametragem (documentário com alguns atores) era a pergunta: o que fez daquele menino, preso um dia por roubar uma fruta na feira, - o que fez dele um bandido violento ainda adolescente. O filme passaria em dois programas do Globo Repórter ( que, nos anos 70 era de cineastas brasileiros). E FOI PROIBIDO PELOS MILITARES. Exibido 24 anos depois, em 2002, fez sucesso entre a crítica, homenageado em vários festivais internacionais. Mas o povo brasileiro não viu o filme. Isso ainda me causa muita dor. Agora, nesse pequeno balanço, digo que quando partir levarei essa dor e a dor diante dessa tragédia brasileira. E uma pena lacrimosa  do menino Ramirinho, irmão de Wilsinho que está no filme numa cena tocante, a mãe tentando salvá-lo da perseguição policial, pedindo a ele que olhasse para a minha câmera e dissesse que não era bandido, que queria estudar e trabalhar...Gaguejando de pavor, Ramirinho repetiu as frases ditadas pela mãe...Adiantou nada. Poucos meses depois Ramirinho morria numa perseguição policial. Tinha 12 anos.

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