quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Posse no Memorial da America Latina

João Batista de Andrade é o novo presidente do Memorial

set 04, 2012 Sem comentários

O cineasta e escritor João Batista de Andrade será empossado na presidência da Fundação Memorial da América Latina nesta quarta, 5 de setembro, em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes. Sobre isso ele escreveu em seu blog: “É mais uma volta em minha atribulada carreira. A politica, como o cinema, faz parte de minha vida adulta, desde que vim para São Paulo cursar a Universidade, em 1960. Não posso e nunca quis negar. Nessa dualidade atravessei esses quase 50 anos de muita luta como político e como cineasta. Muitos sonhos, muitos filmes, muitos revezes mas também muitas vitórias.”
Ele foi saudado por alguns de seus colegas cineastas. Nelson Pereira dos Santos, por exemplo, mandou a seguinte mensagem: “Parabéns, João Batista! Mais um desafio à sua vocação de guerreiro. Faço votos de muito sucesso e de lindas vitórias!” Já Roberto Farias escreveu: “O bom cineasta é um ser de multiplos talentos. Sem dúvida você encontrará caminhos e ligações entre o Memorial e o cinema brasileiro. Parabéns.”
O novo presidente entende que o Memorial é o lugar da América Latina em São Paulo e no Brasil. Esse é seu significado maior e isso precisa ser aprofundado. “E um desafio novo para mim, que me tem feito refletir sobre a nossa relação com a América Latina”, antecipou. A cerimônia de posse terá a participação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e dos membros do Conselho Curador do Memorial, Marcelo Araújo, Secretário de Estado da Cultura, João Grandino Rodas, Reitor da USP, Ruy Altenfelder e Almino Affonso, além de convidados.
Segundo João Batista, o Memorial deve estabelecer uma relação maior com o público, para que ele reconheça esse papel e aqui venha permanentemente ao encontro das manifestações culturais latino-americanas. “E um lugar lindíssimo, feito por um dos maiores arquitetos do mundo, Oscar Niemeyer, e a concepção é do grande antropólogo Darcy Ribeiro. As pessoas precisam conhecer isso muito bem”. Em 2006, como Secretário Estadual de Cultura, João Batista idealizou o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, realizado pelo Memorial na gestão Fernando Leça. Até hoje é um dos principais programas de diálogo cultural promovido pela instituição.
Neste ano de 2012 João Batista foi eleito para o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, na qual participa de uma comissão de programação da TV Cultura. Agora, ao assumir a presidência do Memorial, João Batista repensa a relação da sua geração com os artistas latino-americanos. “Havia um terceiro-mundismo que hoje não existe mais. Os países estão todos e cada um mais preocupados em se auto-afirmarem economicamente. Não há mais ideias revolucionárias”, conclui.
João Batista de Andrade dirigiu importantes filmes da cinematografia brasileira (com diversos prêmios nacionais e internacionais),

José Dumont é o poeta popular Deraldo, em “O homem que virou suco”
como “Doramundo” (1978), “Wilsinho Galiléia” (1978), “O Homem que Virou Suco” (1980), “A Próxima Vítima” (1983), “O País dos Tenentes” (1987) e “Vlado: Trinta Anos Depois” (2005). Como romancista lançou “Perdido no Meio da Rua” (1989), “A Terra do Deus Dará” (1991) e “Um Olé em Deus” (1997), entre outros. Como documentarista, trabalhou na TV Cultura e na Rede Globo, no programa Globo Repórter.
Paralelamente à sua carreira artística, o cineasta atuou como gestor cultural em diversas frentes. “Sempre foi assim”, ele conta, “desde quando, em 1960, vim para São Paulo estudar engenharia na USP”. Natural da cidade mineira de Ituiutaba, só ao chegar na grande metrópole perceberia como lhe faltava informação (“veja, informação, e não formação”, sublinha). Então mergulhou de cabeça no mundo cultural da época, sorvendo as várias linguagens artísticas na ebulição do início dos anos 60.
“Na época morava no 7º andar da Casa do Politécnico, no centro da cidade, conhecido como o “andar vermelho””. Ali iniciou sua militância no PCB (Partido Comunista Brasileiro) e passou a publicar um jornalzinho literário. Fazia parte de um grupo chamado Escola Psico Realista. “Costumo dizer que houve um parto triplo em mim, em que nasceram ao mesmo tempo o cinema, a literatura e a política”.

Em “A Próxima Vítima”, Antonio Fagundes vive um repórter ingênuo
Esse seu lado político sempre esteve presente, mas João Batista soube delimitar as áreas. “Não misturava os campos, a ação política não influenciava minha obra diretamente e vice-versa.” Essa característica ficou clara quando coordenou a Comissão de Cultura na campanha de Franco Montoro para o governo do Estado, em 1982. “Ia até as pessoas, Gianfracesco Guarnieri, Darcy Penteado e outros artistas, e dizia que eles tinham que se envolver e participar porque era muito importante, naquele momento, que o Montoro ocupasse o governo do estado”. Mas, sintomaticamente, no ano seguinte, João Batista lança o filme “A próxima vítima”, no qual personagens se perguntam se algo vai realmente mudar com a vitória da oposição…
Em maio de 2005 João Batista de Andrade assumiu a Secretaria de Cultura, a convite do governador Geraldo Alckmin. Neste cargo concebeu um projeto de lei de política cultural para o Estado que resultou no ProAc – Programa de Apoio à Cultura, celebrado pela classe artística. “Chamei para conversar todas as tendências políticas. Redigi o ProAC em contato permanente com os movimentos culturais”, lembra. O cineasta e agora presidente do Memorial conta que não atendeu exatamente o que eles pediam mas, como sempre buscou a “racionalidade na ação política”, quando saiu da Secretaria em janeiro de 2007 deixou um programa permanente e estruturante de apoio aos produtores culturais, especialmente os iniciantes.
Por Eduardo Rascov
Fotos Luiz Tristão

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