quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Hanna Arendt e Wilsinho Galileia

Facebook 01/Ago/13
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Hanna Arendt. Fui ver o filme ontem. Não gostei muito do filme. É bom, mas falta ânimo. Mas é importante. Sua tese de banalidade do mal é moderna e ainda mal digerida. O nazista Eichmann, segundo ela, era julgado como pessoa humana e a dimensão de seus crimes contrastava com a mediocridade do acusado. Eichmann não era o mal como sempre foi pintado, demoníaco. Não, era fruto da ação de um indivíduo que recusava sua própria humanidade, colocando-se a serviço de um sistema opressor que negava a humanidade aos seus oprimidos. Trago a idéia para hoje, o julgamento do massacre de Carandiru. Ali o sistema não é julgado e as dezenas de funcionários dessa burocracia repressora são condenados a dezenas de anos de prisão. O sistema sai livre. Lembrou-me também meu próprio filme "Wilsinho Galiléia" (1978, Globo, -proibido pelos militares), onde eu quis expor o sistema e não o indivíduo. Esclareço que não eximi o Wilsinho de suas culpas, tanto que o filme se inicia com um plano do ator (Eudes) que representava o Wilsinho ( morto alguns dias antes da filmagem). Ali Wilsinho exibe um leve sorriso de ironia e desdem, ouvindo a fala de um delegado (em off) contando breves histórias da violência inaudita (e real) do bandido em assaltos e assassinatos cruéis. Mas o filme depois se pergunta: o que levou um menino de 9 anos, preso por roubar uma fruta na feira, a esse terrível bandido? - Na verdade eu quis buscar a origem do mal. Miséria, falta de perspectiva e inúmeras passagens pelos terríveis centros de menores, onde, além da opressão, os instrutores não sabiam o que fazer com o menino preso. Não é por acaso que os militares (Palácio do Planalto mesmo) proibiram o filme que, longa, seria exibido em dois programas do Globo Repórter em 1978.
(desenho feito em 1978 pelo amigo Reginaldo Paiva, depois da proibição do filme)

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