segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Cineawtas e a tragédia de Coutinho ( com decl. JBA)

 Cens@Net  03 Fev 2014

Colegas lamentam a morte de Eduardo Coutinho
inserido em 2/02/2014 às 19:02:00
Colegas cineastas lamentaram hoje a morte do documentarista Eduardo Coutinho, que foi morto a facadas pelo seu filho, Daniel Coutinho, em seu apartamento no Rio. Para o cineasta Cacá Diegues, ele foi o "maior documentarista brasileiro e um dos maiores do mundo, um cineasta genial e original". Já o diretor Zelito Vianna ressaltou o legado de Coutinho. "Ele ia a festivais internacionais e era cultuado por todo mundo. Fez uma escola, tem seguidores", disse. Veja também: Cineasta Eduardo Coutinho é assassinado a facadas no Rio Hector Babenco, cineasta "É tudo tão trágico que nem há muito o que comentar. Eu era muito próximo dele. Sei que qualquer coisa que eu disser sobre a obra e o legado dele vai só comprovar que ele foi um único. Seu legado está aí para provar seu talento, sua importância e sua influência." Cacá Diegues, cineasta "Era o maior documentarista brasileiro e um dos maiores do mundo, um cineasta genial e original. Nenhum filme se parecia com outro, cada filme era uma forma de fazer cinema diferente. Era uma obra-prima atrás da outra. Uma pessoa culta, sábia, agradável, serena, fácil de se lidar. É horrível uma pessoa assim morrer de modo tão violento, porque isso é o contrário dele." Jorge Furtado, cineasta "É uma tragédia para o cinema brasileiro. Ele era um grande pensador do cinema. Não há um filme que não surpreenda. Muita gente tenta imitá-lo achando que ele filma de forma simples, mas é tudo muito sofisticado. Ele se aproximava de seu objeto de maneira muito carinhosa." Zelito Viana, cineasta "Ele estava empolgado com o lançamento do DVD do Cabra Marcado para Morrer, me convidou para filmar os extras com ele. Coutinho ia a festivais internacionais e era cultuado por todo mundo. Fez uma escola, tem seguidores." José Carlos Avellar, crítico de cinema "Coutinho descobriu um modo próprio de fazer cinema e se renovou nos últimos 20 anos. Era respeitado no mundo todo. Este era um ano importante para ele, por conta dos 30 anos da finalização do "Cabra marcado para morrer" e 50 anos da interrupção das filmagens." João Batista de Andrade, cineasta "Todo país, todo povo tem que ter seu documentarista. Não que seja somente um, mas um que represente essa tarefa reveladora, a de enfiar nossas câmeras pelos becos de nossa vida social, revelar verdades escondidas, trazer á tona o belo, o feio, o horrível de nossas realidades. No Brasil sempre tivemos grandes documentaristas, mas em cada momento um desses cineastas questionadores passa a ser o documentarista, o símbolo dessa dedicação ao cinema e à revelação. Agora era o Coutinho, que embalou sua carreira depois das experiências no programa Globo Repórter, criado por cineastas no início dos anos 1970 e de que eu também fiz parte. Ali, a possibilidade de um grande diálogo com o público era tentadora. E Coutinho, o mais talentoso de todos nós realizou documentários importantes e afinou seu olhar como documentarista. Do Globo Repórter saiu para realizar seu filme mais famoso, "Cabra marcado para Morrer", onde ele mesmo era personagem e que lhe permitiu fazer uma viagem crítica pela sua\ ossa formação, nossas crenças, nossas visões políticas. Nasceu ali o grande documentarista, o documentarista do Brasil." Amir Labaki, criador do festival É Tudo Verdade "Eduardo Coutinho foi um dos mais originais e marcantes artistas a dedicar-se ao cinema no Brasil. Para sorte do documentário, abraçou o gênero, tornando-se o maior documentarista nacional e um dos maiores do mundo. Com "Cabra Marcado Para Morrer", fez ao mesmo tempo o principal filme sobre o impacto trágico do golpe militar de 1964 e modernizou o longa documental brasileiro. Voltou a renovar-se e a renovar esta produção com seu cinema de conversa (Santo Forte; Edifício Master; O Fim e o Princípio). Na última década, continuava a reinventar-se e surpreender-nos (Jogo de Cena; Uma Dia na Vida; Moscou; As Canções). A falta que já nos faz é imensa e irreparável. Somos todos orfãos de Coutinho." Heitor Dhalia, cineasta "É uma grande tragédia a forma como ele morreu. Um fim tristemente surpreendente para alguém que teve uma vida surpreendente. Sua obra é genial. Ele foi um cineasta emblemático, que influenciou a mim e a tantos. Jogo de Cena, por exemplo, é um exercício incrível de cinema. Foi um mestre." Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que homenageou Coutinho dem 2013 "Estou muito triste. A morte sempre entristece, mas quando é assim trágica é mais sofrida ainda. Lembro do Coutinho muito feliz no ano passado, quando fizemos uma grande homenagem para ele na Mostra. Ele estava super bem disposto, fez questão de abrir todas as sessões de seus filmes, conversou com o público, com os estudantes. Isso era interessante nele. Ele estava muito feliz, se sentindo amado e respeitado. Ele fazia uma imagem de mal humorado, mas no fundo era um otimista. Dizia sempre que não tinha muito o que falar diante de uma questão, mas quando falava, era por horas. E sempre tinha sim muito a dizer. As conversas com ele sempre foram especiais. Assim como seus filmes. Era brilhante, não como documentarista, mas sim como cineasta e artista. Com certeza sua obra influenciou e vai continuar influenciando gerações." (Roberta Pennafort e Flavia Guerra)

JBA e Coutinho


história(s) do cinema brasileiro

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Cinema brasileiro para quem?por Leonardo Mecchi
Cinema brasileiro para quem?por Leonardo Mecchi

Parte 1: O documentário e o público

Na última semana de junho, o Boletim Filme Bdivulgou um dado preocupante para o cinema nacional: 83% dos filmes brasileiros lançados até o momento não alcançaram 50 mil espectadores. A julgar por estes números, substituímos a invisibilidade dos anos Collor (quando praticamente não se produziam filmes nacionais) pela invisibilidade do mercado (quando os filmes são produzidos, mas não são vistos). Para buscar compreender esse dado, é inevitável passar por dois fatores que saltam aos olhos no ranking das estréias nacionais desse primeiro semestre de 2006: o primeiro, analisado neste artigo, é o grande número de documentários sendo lançados comercialmente (o gênero representa um terço dos lançamentos do ano até o momento); o segundo, a ser exposto na segunda parte, o aumento considerável no número de estréias nacionais (31 contra 18 no mesmo período de 2005).

A tendência de crescimento do documentário em todo mundo (e no Brasil em particular) é um fato indiscutível – a ser comemorado. Atualmente, entretanto, a quantidade de estréias do gênero no mercado brasileiro encontra-se bem acima da média mundial (na França, por exemplo, o documentário representa cerca de 12% das estréias nacionais em salas de cinema). Como não há uma cultura documental marcante por parte do público brasileiro, esse desequilíbrio nas estréias reflete-se nos números: das dez menores bilheterias do ano, oito são documentários. Todos abaixo de 2 mil espectadores. A pergunta que fica é: a que serve o lançamento desses filmes nos cinemas?
Não se trata aqui de questionar a relevância dessas obras, mas sim se o lançamento comercial em salas de cinema é a melhor estratégia para que tais filmes atinjam seu público. Iniciativas como a do DocTV e Documenta Brasil nos mostram o início de uma parceria entre o formato do documentário (que deve ser diferenciado do jornalismo) e a televisão. Esta se mostra bastante promissora, com benefícios mais evidentes ainda se comparados ao dos lançamento em salas de cinema.
O programa DocTV (que já se encontra em sua terceira edição e amplia agora seu alcance para toda iberoamérica) já financiou 115 documentários de todos os estados do país, fomentando uma diversidade dificilmente atingível de outra forma. Cada documentário custou aos cofres públicos R$ 100 mil, e a transmissão desses programas, através de 25 emissoras da rede pública de televisão, chega a um público potencial de 100 milhões de pessoas em 2000 municípios dos 27 estados brasileiros. O Documenta Brasil, construído em moldes semelhantes aos do DOCTV, encerrou há pouco sua primeira convocação e irá financiar 4 projetos inéditos de documentário, com um orçamento de R$ 550 mil cada e posterior exibição garantida na TV aberta comercial (SBT).
Obviamente há projetos documentais com uma proposta claramente cinematográfica, e que, portanto, devem ter garantido seu direito a um lançamento em salas de cinema, mas muitos dos documentários que têm estreado no circuito comercial poderiam perfeitamente ter sido produzidos nesse formato, possibilitando inclusive uma maior repercussão e contribuição para o debate (como no recente caso de Falcão – Meninos do Tráfico). Entretanto, em se considerando o resultado recém-divulgado do edital da Petrobras, maior patrocinadora do cinema nacional, onde 30% dos projetos contemplados são de documentários, essa “inflação” de lançamentos documentais deve continuar.
Longe de utilizarem o lançamento em cinema como um trampolim para uma maior visibilidade em outras mídias – como muitas majors têm feito com seus produtos visando o muito mais rentável mercado de DVD – muitos desses cineastas e produtores parecem buscar nas salas comerciais apenas o (questionável) glamour do cinema. Para esses, vale lembrar a contribuição que mestres do documentário como Eduardo Coutinho, João Batista de Andrade, Frederick Wiseman e Robert Drew deixaram, utilizando com primazia as possibilidades abertas pela TV.

editoria@revistacinetica.com.br

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http://www.socine.org.br/rebeca/pdf/2_9.pdf