quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SOZITOS

revista Língua Portuguesa

Julho/2013

Cultura + Linguinha

Sozitos e solidários

João Batista de Andrade se reinventa no infantojuvenil

Por Ana Lasevicius

O cineasta João Batista de Andrade (Doramundo, O Homem que Virou Suco, O País dos Tenentes) lançou este 2013 dois títulos infantojuvenis: Sozitos: a Lenda da Terra Ronca e A Terra do Deus Dará (Lazüli Editora).

Em versos livres, descreve, em Sozitos, um solitário ser chamado Mimo. A história nasceu de uma experiência de êxtase na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O cenário provocou o mineiro a ponto de ele criar uma lenda com elementos tão fortes que chegamos a perguntar se ela não existia antes. Ilustrado pelo artista plástico Paulo Sayeg, Sozitos permite diversas leituras. Uma equivale à observação lúdica das crianças ao contemplarem o animado movimento de formigas. Seguem uma delas e descobrem, surpresas, o formigueiro. Ler o livro resgata a sensação: Mimo se sente o único da espécie, sem consciência de seus iguais, e depois se surpreende ao encontrá-los. Pode-se associar a experiência de Mimo à condição humana, ao mesmo tempo solitária e comunitária.

Outras leituras são possíveis. A força dos versos as sustenta. O diretor quer transformar Sozitos em animação e há um roteiro pronto para A Terra do Deus Dará, à espera de financiamento. Deseja que suas histórias, fortes e poéticas, falem ao cinema com o prazer que dedicou à literatura.
Palavra de autor: João Batista de Andrade
A experiência humana é ao mesmo tempo solitária e comunitária
Sozitos narra a consciência da individualidade? Olha, seria possível considerar o texto como a geração de uma nova sociedade a partir de uma crise. Não? Claro que não pensei nisso, segui um sentimento de solidão, de que estava tomado. Uma solidão que tinha raízes no fim de meu projeto de juventude, o socialismo; no sentimento de derrota ainda em 1964, com o golpe de Estado, e no autoexílio em 1990, por causa do plano Collor, que inviabilizou minha carreira de cineasta em seu auge. Foi uma viagem pelo Brasil Central, de solidão e sofrimento. Um retiro carregado de natureza, que durou até o reencontro com amigos, pessoas interessadas em mim, meus filmes, minhas ideias e até em minha história.
Por que o protagonista perde a consciência da individualidade de tempos em tempos?A trajetória de Mimo recorre à minha: a perda do coletivo, o mergulho na solidão do indivíduo e a redescoberta da sociedade em outro nível, superador. Mimo revela a fragilidade do ser humano, sua atração pela solidão (que vem com o sofrimento) e a busca de uma volta à sociedade... Mas Sozitos é um livro infantil. Tenho notícias de leituras para crianças que revelam o interesse delas no destino de Mimo.

O que é mais fácil de equacionar: solidão ou convivência?Mais fácil seria a convivência, que exige certa consciência de que existe o "outro". E que o "outro" padece também de sua solidão.

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