segunda-feira, 21 de março de 2016

amor

AMOR
(para Ana)

Pedra que rola em nosso abismo
Frêmito indescritível
Fé que se apossa do corpo
Espanto tamanho, riso
Desejo que silencia
Espasmos delirantes
Carregados de utopia

O amor, querido abismo
De nosso destino incerto
Seiva de árvores frutíferas
Nódoas que assustam
E no entanto mais festejam
Como risos de feras escondidas.

Vontade de voar
Na escuridão da prece
Desejos de se anular
No esplendor do medo
No calor de teu corpo intenso
Mais que tudo, toda nossa vida.

Trago no peito o desconcerto
Danço no espaço estreito
Cores, volúpias que busco ouvir
Ver, tocar, sal de peles delicadas
Chamados, arcos iris de beijos
Suspiros que surgem da lava incandescente!

O amor,
Jamais exija dele o que mais queres
Cuida de nunca o expor aos perigos
Desvia dele os caminhos de risco!

JBA 21\março\2016  18:35 hs

Poema 21Mar2016: Desaforamentos

21Mar2016
DESAFORAMENTOS

HISTÓRIAS DE CONFRONTOS
ME DEIXAM ATORDOADO
TEXTOS MALDOSOS, AGRESSIVIDADES
ME DEIXAM DESCONCERTADO

POR TRÁS DE CADA NOTÍCIA
NO MIOLO DE JULGAMENTOS APRESSADOS
ESCONDE-SE O VENENO DA HIPOCRISIA
QUE ENVOLVE O MUNDO, PURA CEGUEIRA.

VONTADE DE AGIR, TIRAR OURO DESSE CAOS
VEM O RODAMOINHO, ME LEVA PARA O ALTO
SOU APENAS FOLHA NESSE LABIRINTO SUJO
NO IMENSO PALCO VISTO LÁ DE CIMA
O DESTEMPERO ME INCOMODA A ALMA.

TENHO CARA, CORPO, FOME, HISTÓRIA
TENHO NOME E PENSAMENTOS PRÓPRIOS
AVESSO AOS CHISTES , CLASSIFICAÇÕES TEIMOSAS
QUE HUMILHAM, FEREM, ME REDUZEM A CHAMA
E ME TRANSFORMAM EM INIMIGO, COISA FÁCIL.

SOMOS TODOS DESIGUAIS NA IGUALDADE
AS DIFERENÇAS EXALTAM OS PENSAMENTOS
E TORNAM-SE MOLAS QUE IMPULSIONAM A VIDA
- SOBRE ELA QUE CADA UM DECIDA
SE PREFERE VIVER NA PÁGINA OU NO VERSO
OU QUEM SABE, VÍTIMA, ALGOZ OU APENAS PASSAGEIRO.

TENHO DITO ISSO A VIDA INTEIRA
FILMES E FRASES AFIRMAM QUE A VIDA
É O BEM SUPREMO DO UNIVERSO
E QUE O MAL É APENAS O GESTO MAL-PENSADO
DOS QUE PREFEREM SER MENORES
PENSANDO QUE NOS REDUZINDO SERÃO MAIORES
E QUE OS FRACOS DEVEM CARREGAR SEUS BENFEITORES.

O MUNDO É UM BEBÊ CHOROSO
COM FOME E FRALDAS SUJAS
CARREGA NO OLHAR  SONHOS E  DIGNIDADE
PEDEM QUE O TRATEM COM CARINHO
E NÃO O PROTEJAM APENAS, FUTURO ESCRAVO

Jba\ 21 março 2016

segunda-feira, 14 de março de 2016

loucuras militantes


                                                           11/Dez/2015

LOUCURAS MILITANTES

AMIGOS EM FÚRIA

Certas lamas, ensandecidas
Certas barbatanas, endurecidas
Certas laranjas, apodrecidas
Incertas vontades, suicidas

Certos ventos enfurecidos
Levam-nos para as trincheiras
Onde ficaremos a vida inteira
Cegos, surdos, adormecidos

A paixão cega e desmedida
Raivas sem eira nem beira
Como tristes e sujas cachoeiras
Abraçando mortos, maldizendo a vida

Certas vontades enfurecidas
Que tudo transformam em inimigos
Repetem medonhas histórias antigas
Mortos e esperanças já perdidas


Inacabada,
JBA

Moscou fala de POEIRA E ESCURIDÃO

Pravda.ru


Literatura e cinema em 'Poeira e escuridão'
13.10.2015

Literatura e cinema em 'Poeira e escuridão'       
Poeira e escuridão - este é o título do livro de contos de João Batista de Andrade (1939), jornalista e professor, que a Associação Cultural LetraSelvagem, de Taubaté-SP, acaba de colocar no mercado. São onze contos escritos em linguagem cinematográfica, com narrativas que espocam como flashes e se superpõem até completar um quadro inteiro.
                                                                                                       
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                                                           I
            Poeira e escuridão - este é o título do livro de contos de João Batista de Andrade (1939), jornalista e professor, que a Associação Cultural LetraSelvagem, de Taubaté-SP, acaba de colocar no mercado. São onze contos escritos em linguagem cinematográfica, com narrativas que espocam como flashes e se superpõem até completar um quadro inteiro. E não poderia ser diferente, não fosse o seu autor um dos cineastas mais importantes do Brasil, ainda em atividade.     
Adelto Gonçalves (*)
Como diz, no texto de apresentação deste livro, Luís Avelima, poeta, crítico, jornalista e tradutor deGente pobre (LetraSelvagem, 2011), de Fiodor Dostoievski (1821-1881), entre outras obras, antigo editor do jornal Voz da Unidade, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e ex-locutor da Rádio Central de Moscou, estes contos constituem "onze retratos que se costuram entre o telúrico e a dureza urbana, a revelar o dia que escorre em poesia de amor e dor, de lembrança, cenas do agora, que logo se tornam cacos na massa infame que nos cerca e que logo adiante se recosturam e ganham forma". Para ele, Andrade firma-se a cada livro e mostra neste última obra que "a literatura é a loucura que pode salvar o mundo".
Já o crítico Ademir Demarchi, doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), poeta e editor da revista cultural Babel, no prefácio que escreveu para este livro, prefere analisar, detidamente, os onze contos, sem deixar que apontar a sua relação com o cinema. E mostra para o leitor menos atento alguns detalhes como aquele que percebeu no conto "Ética pelas metades": um carrinho de bebê põe à vista do leitor (espectador) uma famosa cena do clássico filme Encouraçado Potemkin (1925), do russo Serguei Eisenstein (1898-1948), obra que é considerada, ao lado de Cidadão Kane, do norte-americano Orson Welles (1915-1985), uma das mais importantes na história do cinema.
                                               II
Um dos contos mais bem urdidos desta coletânea - ainda que todos sejam relatos bem construídos, mesmo aqueles de página e meia - é "Morangos silvestres", que encerra o livro. A narrativa é centrada em dois personagens, um mais velho, comunista sobrevivente de um massacre feito por esbirros da ditadura contra o seu grupo, e um jovem aspirante a revolucionário, cooptado pelo mais experiente, mas que, fora de lugar, parece ter chegado tarde ao mundo.
O diálogo ocorre exatamente num momento tenso em que ambos caminham pelas ruas com o objetivo de cometer um atentado contra o presidente de uma republiqueta latino-americana, provavelmente um antigo pelego que, criado e amadurecido no ambiente dos sindicatos de trabalhadores, soubera como usar a linguagem populista de esquerda para encantar a população e perpetuar-se no poder eleição após eleição, traindo os ideais dos grupos esquerdistas que o ajudaram no início da caminhada. Eis um trecho desse diálogo:
- Há um homem próximo de se eternizar no poder, ele saiu de nós, de nossa história, era a promessa de nossa vida, de nossa juventude, a esperança de que tudo voltasse a ser como antes, que a história não morresse, que o ar fosse de novo respirável. E ele nos traiu.
- Ele é apenas um homem - murmurou Ramírez.
- Quando chegam lá, eles deixam de ser "apenas um homem".
É também numa republiqueta de pastelão em que a cena política funciona sempre como farsa que se passa o conto "O gato Guevara", que faz lembrar O outono do patriarca (1975), de Gabriel García Márquez (1927-2014), Tirano Banderas (1926), de Ramón María del Valle-Inclán (1886-1936), e outros romances sobre a decadência de ditadores latino-americanos. Um general paspalhão, sem nunca ter chegado ao ápice da carreira que seria a presidência da uma república bananeira, convive a contragosto com a abertura política que invade até mesmo a sua casa, com a presença de um cunhado "cabeludo, de brincos na orelha, irresponsável e transviado", e até mesmo um gato que carrega nome de guerrilheiro, tudo em favor do bom convívio com a fogosa esposa Leonora.
No conto "No tempo do cinema", Andrade deixa mais uma vez explícito o seu fascínio pela sétima arte e presta homenagem a Auguste Marie Louis Nicholas Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948), os irmãos Lumières, inventores do cinematógrafo, considerados os pais do cinema, filhos do industrial Antoine Lumière (1840-1911), dono da Usine Lumière, em Lyon, na França. O conto é composto por narrativas que igualmente se superpõem, enfocando a infância de meninas pobres, que se desdobram umas nas outras, como matrioscas russas, até dar numa jovem operária francesa que participa do primeiro filme dos Lumières.
Essa jovem, mais tarde, vem para o Brasil com o marido que iria negociar "filmadoras, projetores e até mesmo algumas pequenas latas circulares de rico conteúdo, filmes realizados pelos próprios Lumières que tanto sucesso faziam por toda parte". Sem, contudo, esquecer o olhar do patrão Louis Lumière, por quem sonhava ser seduzida, paixão tão imorredoura que a levaria a dar o seu nome ao primeiro filho, ao primeiro neto e ao primeiro bisneto também.
                                                           III
            João Batista de Andrade, nascido em Ituiutaba, Minas Gerais, militante do PCB à época mais dura da repressão promovida pela ditadura civil-militar (1964-1985), tornou-se nome conhecido nacionalmente como cineasta, depois da realização de filmes como Doramundo, vencedor do Festival de Gramado-RS, em 1978, inspirado em romance do jornalista Geraldo Ferraz (1905-1979), publicado em 1956; O homem que virou suco, Medalha de Ouro de Melhor Filme no Festival de Moscou, em 1981; O tronco, Prêmio de Melhor Filme pela Comissão das Comemorações dos 500 Anos do Brasil no Festival de Brasília, em 1999; Vlado, 30 anos depois, de 2005, que reconstitui a trajetória do jornalista Valdimir Herzog (1937-1975), assassinado nos porões de uma unidade do Exército.
Com mais de 40 obras em sua filmografia, Andrade nunca deixou de manter estreita ligação com a literatura, tendo transportado para as telas, além de Doramundo e O tronco, de Bernardo Élis (1915-1997), outras obras literárias como Veias e vinhos, de Miguel Jorge (1933) e Vila dos confins, seu 17º longa-metragem, de 2011, baseado em romance de Mário Palmério (1916-1996).
Em 1983, dirigiu A próxima vítima, um de seus melhores filmes, que causou forte impressão ao desmistificar violentamente a ilusão da abertura democrática, ainda à época em que o regime civil-militar já permitira o retorno dos exilados e baixara lei de anistia para os perseguidos e seus perseguidores. Em 1987, ganhou quase todos os prêmios do Festival de Brasília, com o polêmico O país dos tenentes, com temática também ligada ao fim do regime ditatorial.
Em 2010, foi o grande homenageado do Festival Latino-Americano de Cinema, em São Paulo. Foi secretário de Cultura do Estado de São Paulo de 2005 a 2007, quando criou a Lei da Cultura (Proac), com editais e incentivos para a produção cultural. Em 2012, foi nomeado presidente da Fundação Memorial da América Latina, cargo que ainda ocupa.
A par de sua carreira como cineasta, publicou mais sete livros de ficção, incluindo quatro romances:A terra do Deus dará (1980), romance infanto-juvenil; Perdido no meio da rua, escrito em 1964 e publicado 20 anos depois (Editora Global, 2ª ed., 1989); Um olé em Deus, publicado em1989 e republicado pela Editora Scipione em 1997; O portal dos sonhos (Ufscar Editora, 2001); Sozitos, a lenda da terra ronca(Editora Lazuli, 2013), romance infanto-juvenil; Confinados: memórias de um tempo sem saída (Editora Prumo, 2013) e A terra será azul (Editora Lazuli, 2014).
Foi professor na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. Em 1999, defendeu na ECA-USP a tese de doutorado O povo fala - um cineasta na área de jornalismo da TV brasileira, aprovada pela banca com distinção e louvor e publicada em 2002 pela Editora Senac, de São Paulo. A jornalista Maria do Rosário Caetano dedicou-lhe o estudo João Batista de Andrade - alguma solidão e muitas histórias, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, em 2010.
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Poeira e escuridão, contos, de João Batista de Andrade, com prefácio de Ademir Demarchi e apresentação de Luís Avelima. Taubaté-SP: LetraSelvagem, 160, págs., R$ 30,00, 2015. Site:www.letraselvagem.com.br
E-mail: letraselvagem@letraselvagem.com.br
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 (*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage - o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail:marilizadelto@uol.com.br

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quarta-feira, 9 de março de 2016

Para guardar: Ana fala de JBA


 que realizou. Foi uma luta conseguir permissão para expor os prêmios que recebeu, espalhá-los pela casa, e eu não encontrei espaço para todos. Alguns, levamos para Gonçalves. Outros, estão guardados. Por que eu lutei tanto por isso? Para que, todos os dias, ele se levantasse e, a caminho da cozinha, olhasse para essa estante, em particular, e entendesse o valor que tem como pessoa.
Eu amo meu marido, mas, independente disso, eu tenho uma admiração profunda pelo ser humano que ele é.
O país parece estar desmoronando. Um país pelo qual ele lutou, em que acreditou, para o qual perdeu amigos super queridos. Não tem sido fácil. Alguém com a trajetória de vida dele precisa ter em que acreditar, por que lutar, por quem lutar e por onde se expressar. Ele anda reflexivo, revendo prioridades, conceitos. Vocês não imaginam a riqueza de conceitos, ideias que essas reflexões têm gerado.
A vida pode ser muita coisa, em alguns momentos. Faz parte. Para isso que servem estantes bem posicionadas. Para nos lembrar de quem somos, do valor que temos, do que somos feitos.
Comentários
João Batista de Andrade Difícil dizer qualquer coisa. Fiz tanta coisa na vida, mas sempre acho que foi pouco. A vida me diz isso, todo o tempo. E acho também que nem tudo foi bom, que eu preciso melhorar. Obrigado, Ana. Pelo que disse e por estar comigo.
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Ana Maria De Vasconcelos Garcia Andrade Vou estar sempre, João.
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João Batista de Andrade

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La Minillo Pensava nisto está semana, Ana.. Se nós que somos filhos da ditadura estamos indignados, tristes, chocados, fiquei pensando, como estariam se sentindo aqueles, que como João, ajudaram a escrever a nossa história, aqueles que viram o horror de tão perto... Deve ser muito difícil assimilar um retrocesso como estes num Brasil que tanto lutaram pra tornar um berço melhor.
Sua estante é simbolicamente linda, e combustível pra todos que acreditam que cada qual tem seu papel a cumprir, nesta jornada tão breve que é nossa passagem pela vida. Beijo grande a todos vocês, linda e abençoada família.

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Marco Aurélio Nogueira Lindo texto, homenagem a um intelectual que eu admiro muito e de quem me considero amigo. Que sabe ter feito tanta coisa importante na vida e que mesmo assim acha que precisa melhorar. Figura rara.
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Lelia Adad Parabéns!! Belas palavras!!
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Gisela Toledo Parabéns Ana Maria De Vasconcelos Garcia Andrade ! Muito, muito legal seu texto e por vários ângulos!!! Parabens ao Joao ! Importante pessoas assim! Que saim frutos dessa nova fase !
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Maria De Fatima Morais de Andrade Parabéns por suas atitudes Ana.... erguer o outro.... principalmente seu marido... so tem estas ações quem possui um sentimento grande de humanidade..... e isto não lhe falta em momento algum.... seja feliz sempre...... abraços...
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Joaquim Alves Ana Maria de Ana Maria De Vasconcelos Garcia Andrade, uma coisa que não aceito bem, é que com um talento imenso como ele tem, desejar manter-se afastado da produção; afinal, ele poderia condtribuir enormemente para fazer o cinema brasileiro sair da mediocridade das 'comédias globais' e similares. Cabe a você, cumprir esse papel. Arre !
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Barros Freire Barrinhos Oi Ana Maria ! bom saber que vc existe ao lado do João ! Tenho em algum lugar no sótão um depoimento inédito ( vídeo ) do querido João sobre a importância da Cinemateca para o cinema brasileiro Anote aí . Aplausos e abs aos dois !